Meu amado irmão e companheiro Alexandre levou um xeque-mate na sua vida.
Com 61 anos de idade, teve que sair do tabuleiro; no xadrez, o termo que se usa é “abandonar a partida”.
Todos sabem que sempre fomos apaixonados pelo jogo de xadrez, desde pequenos e impulsionados pelo nosso pai, trilhamos uma vida tendo como passatempo o jogo de xadrez.
O esporte nos ensina muitas coisas, por exemplo, saber ganhar e saber perder, ser sutil e não ser denso, entregar algo para se ter vantagens posteriormente (os chamados gambitos), e ainda nos ensina que esporte e cultura resultam em paz. Segundo o artista russo Nicholas Roerich (1874-1947) “onde há paz há cultura, onde há cultura há paz”.
Entretanto, quando a perda diz respeito à um movimento tão trágico e inacreditavelmente inesperado, como aquele que surpreendeu a todos, na sexta-feira dia 15 de Agosto de 2025, é algo extremamente difícil de se compreender.
Na sua vida, ele chegou a levar vários xeques: perdeu uma filha com 3 anos de idade, passou por alguns problemas de saúde, passou por algumas turbulências pessoais, familiares e profissionais, mas em todos os casos, com muita maestria, graça e leveza, soube sair dos ataques os quais recebeu.
As tais escapadas dos xeques que levou, não foram baseados em estratégias das grandes teorias do jogo de xadrez, mas foram jogadas geniais que só o Alexandre era capaz de produzir. Criatividade, elegância, sutileza, gentileza, alto astral, risadas e piadas foram suas armas para se livrar dos xeques que a vida lhe apresentou.
Nos últimos tempos, observando como ele se comportava no tabuleiro, confesso que tive um pressentimento ruim, tendo em vista sua pouca vontade e diversão para jogar suas partidas de xadrez. Da mesma maneira, se comportou em relação à vida, faltavam entusiasmo e diversão e parecia que nada mais o encantava. Mas se mostrou feliz e realizado e, principalmente, grato.
Gratidão era também um mantra que carregou pela vida toda.
Com tudo isso, ele ainda me presenteou com algumas partidas, em detrimento do seu claro desejo de não mais conhecer outros lugares, outros torneios e parceiros, e até mesmo a evidente comoção quando se referia a parceiros que já estão em outras jornadas, como, por exemplo, o nosso professor e saudoso pai Armando.
Diante disso, o último xeque que levou foi o temido xeque-mate, jogada em que não há mais saída, pelo menos no tabuleiro do jogo de xadrez.
Mas na vida o xeque-mate é apenas uma ilusão.
Ninguém perde – o que fica é a dolorosa saudade por tantas jogadas e partidas gostosas que todos puderam ter com o Alexandre, uma vez que o jogo é eterno – mudamos apenas de tabuleiros.
Continuarei jogando com ele, usando a capacidade metafísica que todos temos que é a de nos conectarmos a qualquer momento, seja em sonhos ou pensamentos, razão pela qual meu coração fica mais em paz.
Minha gratidão eterna, meu amado irmão, professor, amigo e parceiro.
Guilherme Contrucci
17 Responses
O meu amigo que linda homenagem, ao seu saudoso irmão , que com certeza, está muito feliz , por ter você como irmão!!
Dr Guilherme, sinto muito por grande perda.
Linda homenagem…bjos
É isso mesmo, o jogo é eterno, graças a Deus.
Aprendi e admirei demais com o guru que o Alexandre foi na minha vida, e é verdade, sempre senti neste conteúdo a riqueza que o velho Armando deixou-lhe como herança.
Através do meu Amor por este Irmão que o Senhor me deu, quero que você, a Helô, a Adriana, a Regina, aCorine, e as três meninas saibam que são todos parte da minha família, da família que guardo no meu coração.
Meu querido, sinto muito a sua perda, imagino o quão difícil esta sendo, mas com seu entendimento e espiritualidade tenho certeza que conseguirá seguir. A lembrança que tenho do Alexandre era de um ser muito especial, me lembro da filha dele de 3 anos e o quão carinhoso ele era, me lembro do bom humor e simpatia que tinha como marca registrada com todos, tenho certeza que sua passagem pela Terra foi muito especial. Minhas vibrações amorosas a toda sua família.
Só poderia vir de você grande Guilherme um texto tão sensível e inteligente. Estamos todos enlutados. Força e coragem.
Estou com o coracao partido , pois o Alexandre era uma das pessoas que eu mais gostava me fazia rir arrancava gargalhadas de mim qdo eu queria chorar pela perda da minha Mae, me deu muita força …… ah Lindinho o mundo ficou nublado meu primo querido !
Que bonito Guilherme esse amor de vocês! Essa cumplicidade numa disputa no tabuleiro ! Esse laço feito , esse resgate promovendo vosso reencontro mais na frente no melhor lugar onde os justos se abraçam e comemoram repartindo o troféu da grande partida. Beijo carinhoso
Que metáfora usada de forma inteligente e perspicaz, caro amigo Guilherme, para homenagear seu saudoso irmão. Receba, uma vez mais, meu abraço fraterno e solidário, com desejos de que encontre, no profundo do seu ser, o conforto e a força para superar essa enormr perda.
Guilherme,
Meus sinceros sentimentos a você, à sua família e amigos. Que essa conexão que você menciona no texto seja o conforto de que seu coração precisa.
Que lindo Guilherme. Fiquei emocionada ao ler o seu post.
Adorei.
Beijos
Espetacular…. Emocionante.
Muito lindo, Guilherme !
É muito fiel !!!
Linda homenagem ao irmão, homem, amigo, filho, pai, profissional, professor e tantos outros adjetivos enfim, jogador da vida, ficou em mim um sentimento que o mundo aqui se apequenou um pouco mais, espero que como todos a quem ele era tão caro, como para mim, superarmos está dor inicial, para que ele se torne uma saudades prazerosa e, possa seja lá onde estiver, continuar a nos enviar sua alegre e forte energia. Até um dia Ale, nossas diferenças e longos papos filosóficos que discutiamos não acabaram, só pausaram por um tempo, logo continuaremos em um plano superior. Como sempre nos despediamos: Um beijo LINDÃO.
Simplesmente maravilhoso! Parabéns Guilherme por tamanha inspiração. Abração.
Muito lindo seu texto apresentando o verdadeiro Alê! Pouco convivi com ele e sua turma, mas esse pouco marcou para mim uma época de minha vida muito feliz. Guardo o Alê no meu coração. Bjs!
Que profunda tristeza ao saber da partida do Alexandre…
Ainda custo acreditar…
Minhas maiores lembranças são das férias felizes que tivemos em Pindorama…
Meus mais sinceros sentimentos a todos vcs e em especial a D. Isa…
Que Deus traga o consolo…